quem eu sou?
me pergunto numa segunda-feira à noite.
depois de provar e espalhar uma pilha inteira de roupas no chão.
tem uma lata de cerveja vazia em cima da pia. e também dois pratos sujos: um do jantar, o outro da sobremesa.
minha kitchenette permeia na fumaça do cigarro enquanto eu fico pensando, deitada no escuro.
tudo aqui fede a cigarro.
eu tento disfarçar jogando sprays mas o cheiro do tabaco está impregnado em todo canto.
eu não consigo dormir.
não acho que eu esteja deprimida hoje, hoje não.
mas não tomei meu antidepressivo porque acabou e não tive como comprar.
eu só não consigo dormir por hoje.
na escrivaninha, o notebook apagado e semiaberto. algumas anotações estão espalhadas e minhas canetas disputam espaço no organizador.
tirei meu robe cor de rosa e fui dormir apenas com a roupa íntima. está muito quente. eu odeio calor.
meus bichos de pelúcia estão espalhados pelo espaço vazio da cama, e eu, espalhada de mal jeito no canto esquerdo.
minha cabeça repousa sobre dois travesseiros altos e macios, alguns fios da minha franja grudando na testa pelo suor.
mas não tiro o cobertor. não durmo sem cobertor.
não sei o que eu sou. mas é assim que eu posso me ver por hoje. uma bagunça singular onde tudo tem meu cheiro impregnado, como o tabaco.
amanhã vou acordar cedo e organizar.