faculdade, lockdown, terapia.

 

(três semanas atrás)

e lá vamos nós mais uma vez.

Hoje passei o dia todo muito deprimida. No domingo saiu a notícia do decreto de lockdown aqui no meu estado (ES) e, ok, mesmo sabendo que é necessário, eu fiquei arrasada.

Primeiro porque minha mãe é pequena comerciante e não essencial -então já estamos preocupados com as contas da casa-, e segundo porque as aulas presenciais estavam literalmente salvando o meu psicológico ocupando meu tempo de uma forma muito gostosa (e cansativa).

Ano passado foi um dos piores anos da minha vida. Eu perdi as contas de quantos dias passei sem mal levantar da cama, chorando, e me sentindo total e desesperadoramente sozinha. Além do fato de que eu não consegui estudar NADA, tendo que mudar todos os meu planos de vida até então.

Enfim, todo esse flashback de 2020 me deu uma angústia enorme. Eu questionei todas as minhas decisões até agora (péssimo, péssimo hábito), e não consegui parar de pensar no medo que estou sentindo de não conseguir acompanhar as aulas, de voltar a ficar tão deprimida e não ter ninguém a quem recorrer.

Eu estava prestes a alugar uma kitchenette na cidade em que estou fazendo faculdade, e a vovó já até me encomendou um frigobar de presente, e BOOM: “15 dias” totalmente reclusa.

Como eu ainda não aluguei um apartamento, estou ficando na casa da minha mãe que é na cidade vizinha. 

Recentemente nos mudamos para uma chácara, é bem bonito aqui e já estamos planejando fazer uma horta.

A parte ruim disso é que a internet rural não é muito boa, o que atrapalha bastante a acompanhar as aulas on-line, e sempre que eu precisar ir em algum comércio ou algo assim vou precisar de carona.

Mas não é muito longe da “rua”, na real.

Algo que me tranquilizou muito é que eu tenho alguns amigos daqui que também voltaram por causa da quarentena e estão fazendo suas respectivas faculdades também online. É triste pra todos nós mas é bom poder buscar apoio um no outro. No último fim de semana eles me buscaram aqui na chácara e fomos dar uma volta de carro de madrugada escutando músicas no rádio, cantarolando e botando os papos em dia.

Às 23h de um domingo fomos procurar algum lugar pra comprar um café, mas obviamente, impossível em uma cidade do interior.

De qualquer forma, foi muito bom. Eu me sinto muito sozinha. Muito mesmo. E esse tipo de coisa faz muita diferença pra mim.

Amanhã vou viajar pra casa da vovó porque ela está com um problema no joelho e meu avô precisa ir pra fazenda e não queremos que ela fique sozinha em casa. Estou morrendo de medo de passar alguma coisa pra ela sem querer, mas vou prestar muita atenção e tomar os devidos cuidados. Não queria arriscar assim, mas também não posso deixá-la sozinha :(

quinta-feira, 25/03

Realmente, não estou dando conta de me manter motivada pra estudar todo esse volume de matéria enquanto o mundo em volta desaba.

É bizarro, os hospitais todos sem leito, o comércio basicamente todos fechados, mal tem horário de ônibus e a faculdade decidiu manter as aulas práticas presenciais.

Eles disseram que quem não se sentir confortável em ir pode marcar reposição mas, eu não sei se as pessoas são realmente sonsas ou só fingem, porque todo mundo sabe que é impossível dar conta de estudar pras avaliações do módulo seguinte, ir nas atividades práticas, e ainda revisar as coisas desse modulo atual pra fazer as reposições sabe-se lá quando.

Enfim, se um grupo sai prejudicado em relação ao outro eu não acredito que ir não seja realmente opcional, já que a gente se sente coagido a ir pra conseguir aprender e não se ferrar e reprovar.

Isso já me deixou extremamente nervosa, e eu estou sentindo urgênciaeem me mudar porque não dá pra ficar pegando o tanto de ônibus pra ir pra cidade vizinha nesse pico da segunda onda do corona.

Estou extremamente cansada e sobrecarregada e sem saber o que fazer. Só queria que isso tudo passasse logo.

sábado, 03/04

Minha mãe me expulsou de casa de novo. Não tem motivo justificável. Foi na quarta-feira. Ela acordou estressada por algo que não tinha a ver comigo e se incomodou com o fato de eu estar estudando demais (não é como se eu tivesse escolha, mas ela não entende) e simplesmente me enfiou no carro e me trouxe pra casa do meu pai, na capital, no mesmo dia e hora.
Enfim, fiquei dois dias à base de calmante sem me comunicar com ninguém.
Ontem fiz minha primeira sessão de terapia e foi muito bom pra mim. Escutar alguém que sabe o que você está passando, que não te invalida e não faz você se achar a pior pessoa do mundo por coisas que não estão nem ao seu alcance é muito importante.

Todavia, eu cheguei a uma conclusão logo no momento em que tive que me mudar mais uma vez: eu preciso ir pra longe dos meus pais antes que eu os odeie de forma irreversível.

Não consigo mais aguentar essa humilhação de ser jogada de um lado pro outro simplesmente porque eles não querem ter que lidar comigo. Sendo que eu não dou trabalho NENHUM, eu literalmente não faço nada.

Minha nota no SISU foi até razoável, acho que consigo passar em alguma coisa bacana e penso em ir pro sul por conta do clima de lá. Eu gosto muito de frio.
"Mas e a medicina? Não era sua vocação? Você não sonhava com isso?"

Posso ser sincera? Eu não tenho sonho nenhum além do de viver em paz por enquanto. É impossível conseguir conquistar e ir atrás das coisas quando você não consegue se estabilizar nem emocionalmente nem fisicamente. Aqui, seja com meu pai ou minha mãe, eu fico o tempo todo com medo de tudo que eu possa falar ou fazer e de como eles vão reagir. E infelizmente eu percebi que todos os meus esforços em tentar me encaixar e ser seja lá o que eles queriam que eu fosse não adianta de nada, porque o problema não é de fato eu. É eles.

Enfim, por favor, torçam por mim. Essa é realmente a minha esperança de poder melhorar e começar uma vida nova, saudável psicologicamente e tendo força pra não só ter sonhos como ir atrás deles.

Muita força pra vocês também, essa pandemia está sendo avassaladora, muito mais do que devia, pela incompetência do governo do nosso país.

Ainda bem que ano que vem temos a chance de tirar esse bosta da presidência, não sejam omissos.

Um grande beijo, até a próxima.